Texto ou gramática? Dê sua opinião sobre o ensino de língua portuguesa através da textualidade


Primeiramente, em linguística, o que é sincronia: [s.f. (Ling.) Estado de uma língua em determinado momento histórico.] Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de Letras. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora nacional, 2008, p. 1184. 

O linguista Sírio Possenti apresenta uma concepção de ensino em sincronia. Concordo com sua visão porque ressalta o ensino de gramática através de textos, mas é preciso que esse aprendizado seja ampliado. Essa concepção textualista possibilita ao aluno, além do aprendizado da língua, maior cognição para a vida intelectual. Concepção também defendida pela linguista Ingedore Villaça Koch, como também propõe Travaglia (1997) no artigo "Ensino de língua materna - Gramática e texto: alguma diferença?", ressaltando que texto é a gramática da língua em funcionamento. 
Porém, há algumas questões que devem ser consideradas, como é o caso do uso do texto literário, que não deveria servir de exemplo, por conter traços não formais devido a licença poética. Como também, aludir o ensino de língua aos tempos remotos, acredito não ser tão relevante para a vida escolar, mas sim para os estudiosos da língua, que levam em conta os textos arcaicos escritos, fazendo um estudo histórico-científico (Filologia - do grego "filein" = amar + "lógos" = palavra ou discurso - amor às palavras).
Aprender gramática é realmente complexo. Penso ser mais interessante o ensino dagramática em uma idade de maior maturidade, digo no Ensino Médio. Se se unissem tudo isso, concepção de língua histórica à uma prática sincrônica, utilizando textos relevantes e uma boa explicação acerca da gramática tradicional, acredito ser possível conseguir, tanto maior interesse dos alunos pela disciplina, quanto melhor aquisição deste saber para a prática da escrita em diversas modalidades. A língua é um processo sócio-interativo.
Contudo, apesar de concordar com a visão de Possenti, não acho suficiente o seu método, pois deixa incógnitas, tendo em vista a infinidade de situações, excessões e regras que a gramática nos coloca. Sendo assim, um revisor deve ater-se sempre ao excelente conhecimento das regras gramaticais, não que para este a proposta de Possenti seja inviável, pelo contrário, é importante, mas não totalmente produtiva. 
Para completar todo o assunto aqui abordado, e contradizendo um pouco, proponho a entrevista do linguista Mário Perini, (autor da Gramática do Português Brasileiro) que defende que a produção linguageira independente da gramática.


Anáfora semântica

Você que é de Letras ou apaixonado(a) pela linguística, já deve estar familiarizado com a semântica [s.f.  (Ling.) Estudo do significado das palavras] (Academia brasileira de letras. 2. ed. 2008, p. 1169). Já o termo anáfora [s.f. 1. (gram., Lit.) Repetição da mesma palavra no começo de duas ou mais frases consecutivas. 2. (Gram.) Referência a um termo enunciado anteriormente no discurso...] (Academia brasileira de letras. 2. ed. 2008, p. 136).

Fazendo um estudo sobre o texto e a construção de sentidos, facilmente se conclui que toda produção verbal é remissiva, ou seja, os sujeitos interlocutores fazem inferências a todo momento. Seria, portanto, a denotação de algum discurso em outras palavras e significados. A linguista Ingedore Koch (2011, p. 28) descreve que as "inferências constituem estratégias cognitivas (...) que permitem estabelecer a ponte entre o material linguístico presente na superfície textual e os conhecimentos prévios e/ou compartilhados dos parceiros da comunicação." Em outras palavras, é a capacidade de re(construir) os sentidos que o texto explicita. E isso é anáfora semântica, não propriamente da repetição idêntica das palavras, mas da nova roupagem das mesmas. 



Leia mais em: KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2011)